Tradição e atualidade em 125 anos de história da IFAB

Era uma vez a… IFAB

An IFAB meeting in 1956

10/05/2011 - A 125ª Assembléia Geral Anual da International Football Association Board (IFAB) aconteceu no mês de março (05), em Newport no País de Gales. O apitonacional aproveita a proximidade da data para retraçar a história dessa instituição fundamental para a evolução do futebol.

O principal tema da reunião foi a tecnologia da linha do gol. Além disso, os membros da Board fizeram uma análise sobre o andamento da experiência com os árbitros assistentes adicionais. Finalmente, foi admitido a utilização dos mesmos na Euro 2012.

No entanto, bem antes que essas questões importantes entrassem em pauta, diversas outras foram discutidas pela Board. Você sabe como as Regras do Jogo evoluíram ao longo do tempo? E quem é que faz parte da Board?

Para que você conheça a história do evento que a Federação Galesa de Futebol organizará este ano, a FIFA preparou uma publicação na qual você encontrará documentos e fotos de época e lembrará o contexto mundial em que a Board foi criada, em 1886, além de saber tudo sobre o resort Celtic Manor, local onde aconteceu a reunião.

Tradição e atualidade em 125 anos de história

IFAB 28/02/2009

No dia 2 de junho de 1886, um grupo de cavalheiros se reuniu em um escritório não longe do Viaduto Holborn em Londres. Os homens em questão tinham duas coisas em comum: um imponente bigode primorosamente aparado e a certeza de que a criação de uma instância superior que protegesse as regras do futebol era uma necessidade.

Ao longo da reunião, os representantes das quatro federações britânicas — Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte —decidiram fundar a International Football Association Board (IFAB) para supervisionar o esporte. Aqueles distintos senhores provavelmente não imaginaram que, 125 anos mais tarde, a Board continuaria se reunindo todos os anos para discutir as Regras do Jogo seguindo um protocolo que permanece incrivelmente semelhante ao que eles estabeleceram em 1886.

Os membros da entidade encontrarão-se no Resort Celtic Manor em Newport, no País de Gales, no último mês dede março. A 125ª Assembléia Geral Anual da IFAB provavelmente não teve tantos bigodes, mas o objetivo foi o mesmo: zelar pelas regras do futebol para que ele continue sendo o esporte mais popular do planeta. A Board sempre foi vista como uma entidade fundamentalmente conservadora. Toda e qualquer mudança importante é discutida em detalhe e, não raro, passa por longos testes antes que se decida pela sua adoção.

O vice-presidente da FIFA e da UEFA Geoff Thompson, que participou de nove assembléias da Board na época em que presidiu a Federação Inglesa de Futebol, confirmou esse conservadorismo em entrevista à FIFA World. "Quando se pensa em emendas às regras, é preferível ser conservador", explica ele. "Costumamos dizer que a International Board é a guardiã das Regras do Jogo e, eventualmente, ela proporciona a estabilidade necessária para impedir que determinadas idéias extravagantes invadam as nossas regras, o que prejudicaria o futebol."

Os primeiros passos
Durante a assembléia de 1886, o presidente da federação inglesa, Francis Marindin, foi o primeiro a se deparar com uma certa resistência ao novo ao tentar proibir o uso de travas nas chuteiras. A ata da reunião revela que Marindin propôs "que nenhum jogador use objetos proeminentes de qualquer tipo sob a sola ou o calcanhar das chuteiras, com exceção das bandas de couro previamente aprovadas". O País de Gales apoiou a idéia, mas Escócia e Irlanda do Norte a rejeitaram e o dirigente inglês acabou retirando a proposta.

Muitas vezes, o órgão britânico permaneceu nos bastidores do esporte. "Não se trata de uma instituição misteriosa, mas ela possui uma espécie de aura impenetrável", lê-se em um relatório da FIFA, publicado em 2007, sobre a estrutura e as funções da Board. Contudo, quando é preciso debater um tópico importante das regras, ela se transforma no centro das atenções.

A mudança mais significativa dos últimos anos foi adotada pela Board em 1992, quando se proibiu o goleiro de usar as mãos para tocar bolas recuadas intencionalmente pelos companheiros. A alteração foi sugerida inicialmente pelo francês Michel Platini, atual presidente da UEFA e vice-presidente da FIFA. A regra mudou radicalmente o futebol, e pouca gente duvidará dos seus efeitos benéficos — exceção feita aos guarda-metas, talvez.

A chegada da FIFA
A FIFA se uniu à Board em 1913, com direito a dois votos, a exemplo de cada uma das federações britânicas. Mais tarde, em 1958, o crescimento do futebol internacional levou a um consenso que fortaleceria a influência da FIFA: a entidade passou a contar com quatro votos, contra apenas um de cada federação. Assim, toda proposta precisa de seis votos para ser adotada. O sistema permanece em vigor até hoje.

Quando se conversa com os membros da Board, antigos ou atuais, todos evocam o privilégio de servir a uma instituição igualmente ilustre e histórica. É o que diz o ex-presidente da Federação Irlandesa de Futebol, Jim Boyce, que sucederá Thompson na vice-presidência da FIFA neste mês de maio. "Participei de 14 assembléias da IFAB e para mim foi um privilégio estar presente a cada uma delas, porque rapidamente se percebe a importância dessa instância para o esporte."

As quatro federações britânicas geralmente se revezam na organização das assembléias e, a cada cinco anos, a reunião é organizada pela FIFA, mas não necessariamente na Suíça. Em ano de Copa do Mundo, o evento costuma acontecer no país-sede do torneio. Em 1996, porém, a Board se reuniu no Rio de Janeiro para homenagear o então presidente da FIFA João Havelange, que preparava a sua aposentaria. "Foi um acontecimento inesquecível", recorda Boyce. "Assim como o de 2004, na Inglaterra, em que todos os membros da International Board se encontraram com a rainha."

Analisando os 125 anos de existência da Board, percebe-se que as regras do futebol mudaram muito pouco. Uma das modificações mais importantes foi adotada em 1925, quando a regra do impedimento passou a dar condições de jogo ao atacante que tivesse diante de si apenas dois jogadores, em vez de três. Embora a regra tenha sido alterada novamente em 1990 — decidiu-se que o atacante deveria estar na mesma linha do último defensor —, o seu princípio permanece o mesmo.

Recentemente, a regra do impedimento foi modificada outra vez, determinando-se que o atleta precisa participar ativamente da jogada para estar impedido. "Este ponto continua gerando controvérsias até hoje, mas a IFAB reflete bastante sobre a questão", explica Boyce.

O cuidado com o detalhe
Contudo, a maior parte do trabalho da instituição envolve assuntos menos polêmicos. Os logotipos nas bandeirinhas de escanteio, a cor das bermudas térmicas autorizadas e a supressão da publicidade sobre o gramado são questões analisadas pela Board, que se esforça para impedir a comercialização excessiva do esporte.

Todas as federações afiliadas à FIFA têm o direito de propor alterações e, ao longo dos anos, diversas idéias insólitas foram testadas em campo antes de caírem no esquecimento. Um exemplo é a "linha das 35 jardas", utilizada na liga americana no final da década de 1970 e atrás da qual não poderia haver impedimento. O sistema logo foi abandonado.

Na década de 1990, a Board deu sinal verde para que se testasse o uso dos pés em cobranças de lateral. "Os experimentos também não foram conclusivos", lembra Boyce. "As equipes arremessavam sistematicamente na direção do gol, o que prejudicava o jogo. Mas estudamos a questão a sério, pelo menos."

A 125ª Assembléia Geral Anual da International Board foi histórica, pois o debate sobre a tecnologia da linha do gol esteve na pauta. O tema  foi discutido em reuniões técnicas e na sessão de trabalho que precedeu a assembléia.

Independentemente da decisão final, o diretor da federação galesa, Jonathan Ford, ficou contente de receber os membros da Board para o grande evento. " Trata-se do fórum em que se discute o futebol e participar dele é um privilégio imenso", disse ele na época em entrevista à FIFA World. "A força da International Board é que os membros têm consciência da pesada responsabilidade que lhes cabe, para o bem do esporte mais popular do mundo."

Os cavalheiros bigodudos do século XIX talvez não tivessem plena consciência da importância da fundação da primeira organização internacional do futebol. Revivendo esses 125 anos de história, porém, parece apropriado dizer que, quanto mais as coisas mudam, mais a Board continua a mesma.

Datas-chave na evolução das Regras do Jogo

1863: As primeiras Regras do Jogo são redigidas em Londres

1886: A International Football Association Board é fundada pelas federações britânicas

1891: Os árbitros ganham o direito de expulsarem jogadores e marcarem faltas e pênaltis

1902: Criação da grande e da pequena área

1904: Fundação da FIFA

1912: O goleiro é proibido de tocar a bola com as mãos fora da grande área

1913: A FIFA passa a integrar a International Football Association Board

1920: Extinção do impedimento em cobranças de lateral

1925: A regra do impedimento é alterada para dar condições de jogo ao atacante que tivesse diante de si apenas dois jogadores, em vez de três

1938: Revisão das Regras do Jogo. As 17 regras são reescritas e atualizadas por Stanley Rous, que assumiria a presidência da FIFA em 1961

1958: Introdução do novo sistema de votação, vigente até hoje, em que cada federação britânica conta com um voto, contra quatro da FIFA, e toda proposta precisa de seis votos para ser aceita

1970: A FIFA autoriza duas substituições em jogos de Copa do Mundo

1990: A regra do impedimento é alterada para dar condições de jogo ao atacante que estiver na mesma linha do último defensor

1992: O goleiro é proibido de usar as mãos para tocar bolas recuadas intencionalmente pelos companheiros. A regra do gol de ouro é criada para definir o vencedor em partidas com prorrogação

1995: Autorização de três substituições, em vez de duas

1997: Primeira revisão das Regras do Jogo desde a década de 1930

1998: Os carrinhos que colocam em perigo a integridade física do adversário se tornam passíveis de cartão vermelho
2004: Extinção da regra do gol de ouro

2008: A Board autoriza a UEFA a realizar testes com a presença de dois árbitros assistentes adicionais, posicionados atrás da linha do gol.


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