chorar, pois
como não tomou providencia, acabou pagando pela inércia.
Leia abaixo o conteúdo da denuncia de Daniel Carmona publicado no
dia 12 de janeiro de 2012.
Extraído de: Marca Brasil, 12/01/2012, pg 20-21
SILÊNCIO EM TROCA DA ASCENSÃO NA
ARBITRAGEM
Juízes dizem que só crescem se apitarem jogos de séries inferiores
em que até perdem dinheiro
Na esteira das acusações de Gutemberg de Paula Fonseca, árbitros de
São Paulo ganharam coragem para questionar a forma como os chefes da
Federação Paulista de Futebol (FPF) tratam a escala.
De acordo com Davi Balsas e Jeimes Willie Catini, só chega ao
primeiro escalão quem se submete a perder dinheiro e se arriscar em
jogos de campeonatos amadores e de séries inferiores, cuja
arbitragem também é comandada pelos que escalam para a Série A1 do
Paulista.
O silêncio sobre os problemas é imperativo para a ascensão.
“Você mantém um sonho quando está arbitrando, evita falar
publicamente, expor os problemas e as mazelas da entidade. Até por
orientação da Federação, um árbitro não pode falar”, explica Jeimes,
33 anos, de Araras.
A declaração ajuda a entender as denúncias de Gutemberg.
Criticado por não ter falado quando pertencia ao quadro da Fifa, o
ex-árbitro promete divulgar em breve as provas que diz estar
apresentado sigilosamente à Justiça desde 2007.
“Os árbitros não querem se comprometer com os dirigentes. Todo mundo
vive a expectativa de chegar ao topo da carreira. Por isso existe
esse silêncio”, afirma Davi, 29 anos, na FPF desde 2006.
Dia 2 de outubro, ele foi escalado para jogo do campeonato amador de
São Paulo, em Brodowsky (Brodowsky x Sem Segredo).
Alegando problemas financeiros, já que pagaria para trabalhar, pediu
dispensa. Por conta de uma pancadaria generalizada o jogo, que
acabou sendo apitado por Gustavo Turra, terminou no 1º tempo, de
acordo com súmula no site da Federação.
Junto com a partida, terminou também a carreira de Davi.
Em novembro, ele saiu de Campinas para reunião na capital com Arthur
Alves Junior, um dos diretores da arbitragem e braço direito do
Coronel Marinho, chefe da comissão.
Em pauta, a razão de seu desligamento. “Fiz os cálculos e vi que o
dinheiro que receberia (R$ 188) mal dava para pagar o deslocamento e
a alimentação”, diz ele, que andaria, em um dia, 500 km, ida e volta
— isso se economizasse na diária de um hotel. Só de gasolina e
pedágio, saindo de Campinas, ele gastaria R$ 200.
No encontro, Davi recebeu uma recomendação de Arthur. “Ele disse:
‘Faça uma carta para o Coronel Marinho se humilhando. Vai dar tudo
certo. Mas quero deixar claro que seu caso vai servir de exemplo
para os demais. Quero você falando bem de mim depois’”. Pensando em
preservar anos de investimento e trabalho, fez o combinado. O
retorno ao quadro, no entanto, nunca aconteceu e ele decidiu fazer a
denúncia.
“Os responsáveis pela arbitragem ganham as licitações de campeonatos
amadores e a gente tem que se virar para trabalhar. Mas aí você nega
e eles te desligam do sistema. Te colocam na parede para servir de
exemplo aos colegas. É assim que funciona”, finaliza. Jeimes
concorda: “É um jogo, mas não dá para entender os critérios”.
CENTRALIZAÇÃO: Chefe do apito tem presença forte em quatro órgãos
“Em quem nós podemos confiar? Vamos reclamar para quem?”. A
indagação de Davi está pautada na hierarquia das entidades que
comandam a arbitragem paulista. Segundo os árbitros, as entidades
são administradas pelas mesmas pessoas.
“O Arthur (Alves Junior) é responsável pela escala dos árbitros da
FPF, é o presidente do Sindicato dos Árbitros (Safesp) e tesoureiro
da Cooperativa dos Árbitros (Coafesp). Você fala de um lado, o outro
escuta”, pondera Jeimes.
Sucessor de Sérgio Corrêa na presidência do Sindicato dos Árbitros,
Arthur também ocupa a cadeira de Secretário Geral da Associação
Nacional dos Árbitros (Anaf).
“Tem muita coisa errada. Desde a metodologia aplicada aos árbitros
no ranking, até o acumulo de cargos com motivação política de alguns
diretores do apito”, pondera ex-árbitro Rafael Porcari, que há anos
mantém um blog no qual debate sobre as irregularidades do meio.
OUTRO LADO: Dirigente nega
conflito.
A reportagem entrou em contato com Arthur Alves Júnior, principal
alvo das acusações, que garantiu não existir conflito (ou
convergência) de interesses no acúmulo de suas funções. “Não
prejudico ninguém.
O Sindicato dos Árbitros existe porque a Federação dá um apoio. Se
isso não acontecer, o sindicato já teria fechado. O dia que eu me
sentir em uma posição conflitante, aí vou sair da comissão de
arbitragem (da FPF)”, disse ele, que em seguida completou:
“Como presidente do Sindicato dos Árbitros, tenho conseguido fazer
muito mais coisas dentro da comissão de arbitragem do que antes. O
processo funciona com transparência”.
Na presidência do Sindicato dos Árbitros, Arthur é o sucessor de
Sérgio Corrêa, atual chefe da comissão de arbitragem da CBF, e
acusado de corrupção e favorecimento por Gutemberg de Paula Fonseca
em declarações à rádio ‘Jovem Pan’ na semana passada.
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